quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Cuidadores de idosos, por Astor Wartchow* (Zero Hora de 16/10/13)
Artigos recentes em Zero Hora abordaram diversos e procedentes aspectos relacionados aos idosos. Gostaria de me referir a um ponto costumeiramente desdenhado e esquecido. A questão do cuidador familiar, isto é, o cuidador não profissional. O cuidador por afinidade de parentesco, a exemplo de irmãos e filhos, principalmente.
Quem realmente se preocupa com o seu idoso? Quem realmente cuida do seu idoso? Qual o ônus pessoal e familiar desse cuidador?
Uma rápida pesquisa confirma o que é de (re)conhecimento de todos. A absoluta maioria dos filhos se omite na atenção aos próprios pais. Corrijo: se omite na atenção partilhada aos pais, já aos cuidados de algum parente. Sim, regra geral, alguém está na companhia do idoso.
Mesmo nos raros casos daqueles que tenham a colaboração de cuidador profissional, os filhos responsáveis e rotineiramente presentes sofrem uma imensa e desgastante carga emocional, na proporção das dificuldades e necessidades impostas por seu idoso.
Mas sofrem um duplo desgaste emocional, pessoal e familiar, na proporção da omissão dos demais que deveriam – por razões éticas, responsabilidade e por solidariedade – se fazer presentes nos cuidados do seu idoso.
O responsável presente tem privações de lazer, de convivência com filhos, companheiros e amigos. Há casos em que nem casamentos resistem. Esse sobrecarregado cuidador familiar tem perturbações emocionais que atrapalham seu trabalho e convivência profissional.
Toda essa privação e suas “dores” resultam sentimentalmente reiteradas e agravadas nas omissões do outro. Porque o outro que se faz ausente goza os prazeres da vida e das oportunidades.
Posta a situação de modo real e verdadeiro, entre duas realidades opostas, ainda que devessem ter a mesma motivação ética – a de cuidar de alguém –, resultam evidentes indagações de natureza existencial.
De filho para filho, de irmão para irmão, por exemplo, haverá alguém mais responsável? E, ainda que assim fosse, não haveria de se fazer presente, no mínimo, um exposto, renovado e permanente grau de solidariedade, participação e colaboração?
Mas, e se assim não fosse, como na maior parte dos casos não é, o evidente comprometimento de um e a reiterada ausência de outro, o não gozo (da vida) de um e o estado prazeroso (da vida) de outro, não revelam e significam algo atroz, quase perverso?
*ADVOGADO
MULTIMÍDIA
Astor Wartchow
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