Pra mim eram apenas alguns parafusos na parede, deixados pela proprietária do apartamento recém comprado, e que logo mais podem ser substituídos, retirados, utilizados. Preferencialmente com quadrinhos, prateleiras. Mas, enquanto isso, eles poderiam ficar ali. Bem, mas para quem tem um grau de ansiedade que não cabe em si, eles não podem. Precisam ser retirados, corrigidos, ou preenchidos, sob pena de alta angústia. Poderia ser outra a razão da angústia: excesso de doces, "mimos", que poderiam ser consumidos lentamente, cada colherada com o sabor do carinho de quem presenteou. Mas, não, é preciso terminar com eles logo, ou passar adiante. Será uma tentativa de passar também o carinho adiante? De fazer com que o carinho se espraie ou de tentar negá-lo? Ou de voltar à situação anterior, angustiante, porém conhecida e insanamente confortável do não ter com que ficar ansioso.
Às vezes nosso problema pode ser não ter problemas. Outras, o problema não ser reconhecido pelos demais. Mas como fazer quando a solução não nos compete, ou afetará outros, e a pessoa precisa ver isso por si? Difíceis resoluções, que vão da ação à capacidade de entender quando nada é possível ou só será se o outro quiser.
Diagnósticos à parte, ansiedade é tratável, psicológica ou quimicamente (ambos, inclusive). O difícil é fazer ver e agir. Aceitar o por enquanto, que pode ser para sempre. Ser sereno mas também firme. Não abandonar, embora a vontade - sua própria ansiedade - seja a de resolver para seguir, e isso não esteja sendo possível. E se o tratamento fosse dado, e desse certo? O que é dar certo, a partir de certo ponto? Ansiedade... cada um com as suas, com seus parafusos não preenchidos.

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